O poço do passado
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O poço do passado
O poço do passado
R$ 8,00
Autor: Vamireh Chacon

Sinopse

A leitura de O Poço do Passado fortalece em mim a idéia da importância que poderiam ter, no Brasil, as pesquisas genealógicas, como uma contribuição robusta à nossa História Social. Infelizmente parece que entre nós genealogia tem sido desenvolvida apenas por maníacos de prosápias, nostálgicos de um conservantismo cheirando a naftalina. É patente que a História do Brasil (perdoem-me os populistas) tem sido feita, especialmente no Nordeste e Minas, tanto no certo como no errado, por certas famílias que se entrecruzam infatigavelmente. O povo, ele mesmo, até hoje teve pouca atuação na mudança do nosso destino. Nossas revoluções republicanas quase que se limitaram a explosões do militarismo aventuroso. O povo, quando muito, assiste das arquibancadas, emocionado, como "torcedor".



Tenho a impressão de que a matéria mais importante do livro é construída por observações e comentários que captam os traços mas impressivos de cultura nacional, ou seja, a maneira como somos e modo como nos comportamos. É marcado logo o nosso desamor pela Natureza e também pelo Outro, o Próximo, o patrício infeliz que vive no abandono, no desvalimento.



O familismo, tara social, que ainda impera no Brasil, e principalmente visível no meio político, o mais egoísta, foi registrado com objetividade.



A ojeriza ao trabalho, legado escravocrata à população livre, fez-se também lembrada. O legalismo, servindo como cortinado para ocultar a distribuição de privilégios, exceções e facilidades, acentuado em página sincera, acusadora. A hipocrisia da Justiça denunciada, à p. 152, com vigor: "Quando se concedia algo a uma classe inferior, vinha do medo ou da 'pena', raramente por razão. Não se aceitava a pena de morte legal, com defesa eqüitativa pública, pelos mesmos sentimentalismos, preferindo-se a liquidação sumária e secreta, ou pública se espetacular pela polícia ou grupos de criminosos se autojustiçando".



Não são omitidas a geroncracia, a desvalorização do intelectual e a cultura balofa das Faculdades de Direito. O resvalar da universidade brasileira num populismo mediocrizante, demagógico em desoladora massificação, encontra no livro um ligeiro destaque.



Aponta-se a fraqueza, a deficiência do espírito associativo do brasileiro, o que tornam tão inconsistentes as opiniões e aspirações populares. A incapacidade do nosso povo para a organização, para união solidária, favorece o absolutismo dos governos, que nos últimos vinte anos chegaram a implantar orgulhosamente a impunidade...



Muito bem gizado o paralelo entre Anísio Teixeira e Edgar Santos, dois educadores de verdade, numa república cheia de educadores de mentira.

O Poço do Passado, a que falta uma contextura densa, porque seu autor preferiu o processo dos fragmentos, dos "flashes", salienta-se como uma obra bem escrita, em que um intelectual ativo fala simpaticamente de suas conquistas culturais num meio adverso, intelectual, sobretudo àquele que tem o desplante de dizer "não!" aos "donos da vida".